segunda-feira, 14 de julho de 2008

Por uma Educação Inclusiva

No presente texto, trataremos brevemente da importância da perspectiva da Educação Inclusiva, com a qual tivemos contato direto a partir da disciplina Práticas Pedagógicas em Educação Inclusiva, cursada no período de 2008/2 na UERJ. Através desta disciplina fomos desafiados a pensar e repensar numa educação mais comprometida com a inclusão de todos. O acesso e a permanência de alunos com necessidades educativas especiais dentro da escola e da sociedade ficam, para nós, como os maiores desafios lançados por esta disciplina.
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O conceito de Educação Inclusiva vai além do de Educação Especial. Esta última estava preocupada sim com a educação de pessoas com necessidades especiais, mas seus métodos eram ainda segregadores: separavam-se os alunos com algum tipo de necessidade especial dos que aparentemente não apresentavam nenhuma necessidade. A Educação Especial trouxe grandes avanços para a inclusão de pessoas com deficiências auditivas e visuais no Brasil: ainda no século XIX foram criados o INES e o Instituto Benjamin Constant, o primeiro para a educação de surdos e o segundo para a educação de cegos. Contudo, a perspectiva da Educação Inclusiva hoje pretende ir além dos métodos que separam e agrupam os alunos conforme suas deficiências ou capacidades. A Educação Inclusiva pretende incluir os alunos com deficiência no ensino regular, na sociedade, no mercado de trabalho, nas áreas de lazer, etc. A Declaração de Salamanca de 1994 foi um grande avanço neste sentido
[1].
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No contexto do ensino regular, surge então o desafio das adaptações curriculares, que são modificações de forma e conteúdo das aulas. Estas mudanças na abordagem são feitas pensando-se na participação e no melhor aproveitamento de um ou mais alunos que apresentem alguma necessidade educativa especial. No caso de um surdo, por exemplo, faz-se necessário um intérprete; no caso de um cego, é aconselhável o uso de materiais que possam ser tocados e ouvidos. Não podemos esquecer que esta proposta das adaptações curriculares dentro do ensino regular, trazida pela educação inclusiva, é um enorme desafio para uma sociedade como a nossa, que perpetua modelos de educação que estimulam sempre a competitividade entre os indivíduos, e não a solidariedade. Vemos como exemplo disto algo bastante comum em diversas escolas: o ranking de alunos, defendido pela idéia de que representa estímulo positivo aos estudantes. É freqüente também encontrarmos, nas mesmas escolas, turmas separadas e organizadas conforme o rendimento dos alunos: colocam-se os alunos “problemáticos” numa turma e os com notas elevadas em outra. Isto é a manutenção de um modelo segregacionista.
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Vemos então como a educação é um espelho da sociedade em que vivemos e como esta sociedade é também reflexo da educação que recebemos, oferecemos e construímos. Deste modo, o debate da Educação Inclusiva está também atrelado a questões como o acesso aos meios de transporte para portadores de deficiência física. Quantos ônibus ou estações de trem e metrô estão adaptados hoje? Por que continuamos a ver as leis sendo descumpridas e pouco ou nada fazemos para que sejam obedecidas? Pensar numa educação inclusiva é também pensar numa cidade inclusiva e numa sociedade mais justa. O empoderamento das pessoas com necessidades especiais é um dos maiores desafios neste sentido e já há toda uma movimentação em torno das políticas públicas que visam a inclusão de pessoas com deficiência. A Educação Inclusiva nos leva a pensar nas diferenças sócio-econômicas entre os indivíduos, pois estas também representam formas distintas de se ter acesso a educação, a mercado de trabalho, a bens culturais, etc. O desafio da Educação Inclusiva não fica apenas na questão do acesso, mas exige também um compromisso com a garantia de permanência das pessoas com necessidades especiais nas instituições de ensino, de modo que tenham assim um real e efetivo aproveitamento dos saberes que estão sendo construídos. Também já se percebeu que na Educação Inclusiva não há espaço para a Educação Bancária, tão criticada por Paulo Freire. Deve-se então pensar num processo de ensino-aprendizagem não em que haja simplesmente conteúdos a serem transmitidos, mas antes que haja saberes a serem construídos com os alunos, a partir de suas dificuldades, facilidades, deficiências e características próprias.
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[1] Num artigo escrito coletivamente (Edicléa Mascarenhas Fernandes, Ana Cristina Freire da Silva, Helio Ferreira Orrico e Annie Gomes Redig) e intitulado A Disciplina Prática Pedagógica em Educação Inclusiva no currículo das licenciaturas da universidade do Estado do Rio de Janeiro: uma proposta de formação reflexiva, lemos que a Declaração de Salamanca de 1994 “representou um marco favorável à inclusão, por fortalecer a idéia de que as escolas regulares devem receber todas as crianças, independentemente das dificuldades e diferenças existentes, quer física, social ou lingüística, procurando respeitar os diferentes ritmos de aprendizagem e elaborando, portanto adaptações curriculares que permitam estratégias de ensino que assegurem uma educação de qualidade; onde a discriminação e o preconceito sejam ressignificados.”.
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(Texto escrito por Pedro Grabois, como trabalho individual da disciplina Práticas Pedagógicas em Educação Inclusiva da licenciatura na UERJ)

2 comentários:

Victor Grabois disse...

Querido filho

Gostei bastante do artigo, não só pelo trabalho de pesquisa, mas pela consideração de que a base do processo de ensino-aprendizagem na concepção da educação inclusiva, é a singularidade/ser especial de todos os alunos e de cada um dos alunos. Nosso desafio é a construção de cenários/ambientes/métodos que deem conta e acatem as diferenças de cada um

Claudia Grabois disse...

Pedro,

Edicléa,que foi sua professora,
me falou hoje sobre seu artigo
com muita admiração pelo aluno
que certamente já coloca em prá
tica os princípios da inclusão
em todos os atos da sua vida.
A construção da sociedade inclu
siva é dever de tod@s e seu tra
balho demonstra a importância da
educação no processo de formação
de cada criança, adolescente e
jovens em um novo paradigma.
Continue trabalhando contra a
segregação e por uma sociedade
mais justa para Tod@s.

parabéns!