sexta-feira, 20 de novembro de 2009

ELE SE LEVANTOU, ELA SE ASSENTOU!

ELE SE LEVANTOU, ELA SE ASSENTOU!
Em memória de Zumbi de Palmares e Rosa Parks
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A exploração e a opressão do ser humano por seu semelhante é, infelizmente, recorrente na história da humanidade. Entretanto, há momentos em que as circunstâncias chegam a tal limite que fazem emergir personagens que desencadeiam processos arrojados de transformação. Dois exemplos ilustrativos dessa perspectiva são as trajetórias de Zumbi dos Palmares e de Rosa Parks.
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Ele, nascido no Brasil em 1655 tornou-se a maior liderança no Quilombo de Palmares (Serra da Barriga, entre Alagoas e Pernambuco), um espaço de liberdade, uma espécie de “Estado livre”, a “terra da promissão”, em pleno Brasil colonial. Resistindo por mais de 100 anos, Palmares teve na figura de Zumbi o seu maior representante, que o liderou especialmente a partir de 1680, até sua morte em 20 de novembro de 1695. Contando 40 anos, Zumbi foi assassinado pelo Estado brasileiro, que fez dezenas de investidas para destruir o quilombo-liberdade.
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Três séculos após o nascimento de Zumbi, uma mulher, negra como ele, voltava cansada, do trabalho para casa e resolveu se assentar em certa parte de um ônibus, cuja legislação não permitia tão elementar direito aos negros. Desobedeceu a Lei, foi presa, mas não se rendeu. Rosa Parks, nascida nos Estados Unidos, resolveu não mais aceitar a injustiça histórica perpetrada à “gente de cor” como ela e por isso assentou-se no ônibus, em local apenas permitido aos brancos. Com esse gesto – embora sem querer – desencadeou um processo que levaria à vitória dos direitos civis e a superação da segregação legal nos Estados Unidos. E repercussões em favor da justiça e dos direitos de todos os povos, especialmente dos mais desrespeitados, em todo mundo.
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Por seu sonho – e prática – em prol da dignidade humana Zumbi pagou o preço com a própria vida, seguida pela destruição final de Palmares. Por um momento isso ofuscou a semente de liberdade, mas tais memórias inspiraram – e ainda motivam – a continuar a luta.
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Rosa Parks morreu idosa (aos 92 anos, em 24/10/2005) e viu alguns dos frutos de sua caminhada ao lado dos negros americanos na luta por direitos civis. Sementes que nos alentam a continuar lutando. E como é preciso continuar essa luta, especialmente num país como o Brasil, (inclusive no contexto das igrejas), ainda marcado por sorrateiros e velados preconceitos!
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Zumbi se levantou e ajudou a construir uma história melhor para o seu povo na América do Sul. Rosa Parks se assentou e seu gesto deflagrou um corolário de evangélicas mudanças estruturais na América do Norte.
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Mais de 15 séculos antes desses dois heróis, Jesus, o filho de Deus, que não aceita qualquer tipo de discriminação, racismo, injustiça, exploração ou opressão, veio até nós e empenhou completamente sua existência para que todos os seres humanos, sem qualquer distinção, possam ter vida e vida abundante.
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O exemplo comprometedor de Cristo e as memórias de Rosa e Zumbi alentam as esperanças de todos quantos anseiam e militam pela justiça e nos desafiam a avançar na construção de um mundo permeado de mais paz, fraternidade, justiça, respeito e dignidade para todos os seres humanos.
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Clemir Fernandes

domingo, 8 de novembro de 2009

Mais um grito contra a violência e a injustiça! Natal - RN

Amados irmãos,
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Há muito tempo que estamos dizendo, em todos os encontros da ALEF em Felipe Camarão , que não conseguiremos jamais alterar o decreto divino: “O efeito da justiça será paz [traquilidade, saúde, bem-estar, realização pessoal e coletiva – tudo embutido na palavra SHALOM], e o fruto da justiça, repouso e segurança, para sempre” (Isaías 32.17).
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Muitos de nós olhávamos assustados para todo o lado, ao ver insegurança e violência, mas nos esquecemos de que isso que víamos era fruto da injustiça. Não a injustiça particular, individualizada, privada que nossa religiosidade alienada criou, mas injustiça social, má distribuição de renda, exploração do ser humano por outro ser humano, e isso ofende aos céus desde o tempo de Noé, desde o tempo de Moisés, desde o tempo de Josué, desde o tempo de Jesus.
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Há muito tempo que nas reuniões da ALEF alertávamos à igreja em Felipe Camarão : o cerco está se fechando, não podemos pensar que vamos ficar protegidos dessa violência. Mas, muitas vezes como Jonas, insistimos em dormir no porão do navio enquanto o mar estava revolto e a tempestade caindo.
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Agora aconteceu! Para nossa dor, para que molhemos este chão de lágrimas, tombou um servo do Senhor. No dia 1º de novembro, dia em que ele completava 49 anos de idade, o Pastor Edmilson Melo derramou seu sangue nas dunas da zona oeste de Natal, para defender suas ovelhas da violência descabida, de dois jovens bandidos. Com seu corpo defendeu suas filhas, esposa, membros de sua igreja. Já desfalecido, ainda encontrou forças para mais um gesto de heroísmo, agora diante da filha agredia. Os bandidos, diante de um homem que se recusava a se entregar, foram capazes de um gesto final, baleando-o covardemente.
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Agora é hora de arrependimento: nós falhamos! Avisamos à igreja que estava sob a mira das armas de fogo, mas não avisamos o suficiente! Agora temos de chorar ao ver nossos irmãozinhos sofrendo, agora temos que engolir a seco essa dor para continuarmos nossa caminhada. Mas quanto ainda teremos que clamar por justiça, se nem a igreja escutar?
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Irmãos e irmãs, nós queremos nos solidarizar com a família do Pr. Edmilson, queremos erguer um muro protetor em torno dessa família para que não seja assediada nem pela imprensa, nem pelas horríveis recordações. Queremos nos solidarizar com a Igreja Pentecostal Unidos em Cristo: são nossos irmãos, e muito os amamos. Mas também queremos deixar a pergunta: quantos mais terão que derramar seu sangue para que se entenda que sem justiça não há paz, nem segurança?
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Nossa missiologia individualista não é somente limitada, está produzindo morte de pessoas cada vez mais próximas de nós. Chegou a hora da igreja em Felipe Camarão , e em Natal se levantar e dizer: BASTA! Todos os privilégios do Estado devem imediatamente ser direcionados aos mais pobres: é deles esse direito divino, foi deles que Deus ouviu o clamor, por isso mandou 70 igrejas evangélicas para cá. Porém, precisamos buscar a unidade e relevância na comunidade diante de Deus e dos homens, para que muitos Edmilsons não tenham que tombar. Aliás, a cada dia muitos estão tombando. Que essa morte cause vergonha de nossa desunião, que essa morte nos deixe envergonhado por nossa omissão, que essa morte cause em nós indignação contra a violência, a pobreza, a injustiça. Povo de Deus chegou sua hora em Felipe Camarão !
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A ALEF convida esta amada igreja e toda a sua líderança para participar do CULTO POR JUSTIÇA E PAZ, na próxima segunda-feira, dia 09/11, as 19h00, na Igreja Pentecostal Unidos por Cristo (igreja esta que até este ultimo domingo contou com o pastoreio cuidadoso do Pastor Edmilson Melo). É hora de unidade do corpo de Cristo em Felipe Camarão, é hora de nos solidarizarmos com a igreja e família tão vitimada por esta tragédia e levantar a nossa voz para que haja JUSTIÇA.
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CULTO POR JUSTIÇA E PAZ SEGUNDA-FEIRA, DIA 09/11 as 19:00h Local: Igreja Pentecostal Unidos por Cristo – Rua Indomar, S/N, Felipe Camarão.