segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

“Prioridade” para quem? Qual Evangelho?

por Vinoth Ramachandra*

Contaram-me que no recente Congresso de Lausanne na Cidade do Cabo um pregador e autor americano popular afirmou veementemente que a evangelização, entendida como a proclamação verbal do Evangelho, era a “prioridade” da Igreja. Como esta é uma reação típica, instintiva, que a conversa sobre a justiça social ou a “missão integral” provoca em círculos evangélicos conservadores, é importante explorar quem está dizendo este tipo de coisa e se eles na verdade praticam o que estão dizendo.

Se as prioridades de uma pessoa são medidas pelo tempo que ele ou ela gasta no que faz, estou certo que qualquer um que observe a vida cotidiana deste pregador não concluiria que a evangelização fosse sua prioridade. Ele gastou considerável tempo e dinheiro numa longa e cara aquisição de educação. Se ele tem filhos, estou seguro que tem, da mesma maneira, investido significativamente na sua alimentação e em lhes assegurar a melhor educação possível. Não tenho dúvida de que ele come, pelo menos, três refeições ao dia e desfruta, ao menos, seis horas de sono por noite. Ele tem assistência médica e acesso à melhor atenção médica na nação mais rica no mundo. Possuindo um passaporte americano, ele pode voar livremente para (quase) qualquer lugar do mundo, sem precisar esperar em filas do lado de fora de embaixadas para conseguir vistos. Em outras palavras, seu estilo de vida privilegiado não se dá conta de muita coisa. Esse estilo de vida foi possibilitado pelo trabalho e sacrifício de tantos desconhecidos em muitas partes do mundo. E está distante da realidade experimentada pela maioria de seus irmãos que estavam presentes na Cidade do Cabo.

Sempre que pergunto para tais pregadores: “Você não quer que todos no mundo tenham os mesmos benefícios que você desfruta?”. A resposta que recebo ou é “Isto é evangelho social” ou “Esta não é nossa prioridade; não cristãos podem fazer isso”. Se o Evangelho não é social; então, o que é? E se não cristãos podem fazer sacrifícios para assegurar que pessoas como nós tenham uma vida decente, por que somos tão relutantes em fazer o mesmo por elas? Estamos aqui diante de hipocrisia e dupla moral, as mesmas coisas que despertaram a indignação de Jesus!

A linguagem das “prioridades” pertence ao mundo das organizações (que normalmente têm um único foco) e papéis institucionais. Concordo que o pastor deve fazer o trabalho de pastorear e não ficar comprometido com a administração ou buscar um cargo político. Um músico é chamado para tocar boa música — e o chamado do pastor é ajudá-lo a entender o que significa isto e liberá-lo de outras atividades da igreja a fim de fazê-lo. Mas o chamado prioritário de ambos não é definido nem pela ocupação nem pelo dom. É o chamado ao discipulado.

A Igreja, como comunidade de discípulos de Jesus, é chamada na Grande Comissão a obedecer e ensinar outros “a obedecer tudo o que eu tenho ensinado”. É bem integral. Como cargas d’água a Grande Comissão ficou reduzida à pregação? Tentar selecionar dos ensinos de Jesus o que nós obedeceremos ou tentar classificar seus ensinos em uma escala de “prioridades” não é ser seu discípulo. E, então, com que direito convidamos outros ao discipulado? Jesus espera que a Igreja que está proclamando o Evangelho entre as nações está também vivendo este Evangelho diante das nações. Concretamente, ela está comprometida com a construção da paz, faminta e sedenta de justiça, amando seus inimigos, curando os doentes, compartilhando riqueza com os despossuídos, lutando pela unidade em meio às diferenças, e assim por diante.

O mais próximo que Jesus já ficou de nossa linguagem de “prioridades” foi em sua reprimenda aos Fariseus que estavam ignorando os mandamentos mais “importantes” da lei, a saber mostrar justiça e misericórdia e afidelidade (Mateus 23.23). Também quando foi questionado por um doutor na lei sobre qual era o “maior mandamento”. Jesus respondeu: “Amar a Deus” com todo o seu ser, e “amar o próximo” como a si mesmo (Mateus 22.34-40). Curiosamente, nenhuma declaração de fé evangélica que eu li sequer se refere a isto — é como se o ensino daquele que chamamos “Senhor” tenha sido deslocado por fórmulas doutrinárias entregues a nós por nossas tradições denominacionais.

Eu afirmei no post sobre a conferência de Edimburgo 2010 (“Uma Celebração Centenária”) que o clericalismo tinha cegado o testemunho da igreja. Repito esta convicção com relação à Lausanne. Todos os conferencistas das plenárias do Congresso ou eram pastores ou trabalhores “de tempo integral” em organizações paraeclesiásticas. Eles não são representativos da imensa maioria de cristãos ao redor do mundo que servem a Deus como artistas, engenheiros, advogados, fazendeiros, mecânicos, biólogos e um monte de outras ocupações “seculares”. Eles são os reais “missionários” da Igreja, convivendo com não-cristãos diariamente, e cujo trabalho levanta questões éticas que estão na vanguarda da missão. Enquanto suas vozes forem marginalizadas em tais conferências, continuaremos a ter tais discussões sem sentido sobre “prioridades”.

Oxalá pastores “reformados” como aquele que falou em Lausanne nos dê o exemplo, recuperando a doutrina reformada do sacerdócio de todos os santos!

*Dr. Vinoth Ramachandra nasceu no Sri Lanka. É doutor em Engenharia Nuclear pela Universidade de Londres. Foi Secretário Regional da Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos (CIEE) para o Sul da Ásia. É atualmente Secretário para Diálogo e Engajamento Social da CIEE em nível global. Participa há muitos anos do Movimento de Direitos Humanos do Sri Lanka, da Rede Miquéias e d'A Rocha (organização internacional de conservação ambiental). É autor de vários livros e ensaios, entre os quais A Falência dos Deuses (ABU Editora). Os textos postados na revista podem ser encontrados na sua versão original em inglês no blog http://vinothramachandra.wordpress.com/.


segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Cancelado o ato da Rede Fale no Centro do Rio

NOTA INFORMATIVA


Informamos que devido aos últimos acontecimentos registrados na cidade do Rio de Janeiro, amplamente divulgados na imprensa, e ao clima de insegurança sob o qual a cidade se encontra, a Rede Fale decidiu cancelar o Ato em favor do saneamento ambiental em Marabá, que seria realizado amanhã (26) às 9h da manhã, em frente à sede Administrativa da Companhia Vale. Mantemos, contudo, o nosso compromisso contínuo de orar e agir em favor desta situação, entendendo ser esta, também, uma questão de justiça.




terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Fale é um movimento revolucionário!

O Fale é um movimento revolucionário: não tenho dúvidas!

Vejam relato dos irmãos do FALE-Paraná referente ao processo contra Washington Cruz por ter se levantado contra irregularidades cometidas por uma empresa de ônibus do Estado do Paraná.


O Processo: Movimento e Rede

E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus. Rm 12:2

Mas vós desonrastes o pobre. Porventura não são os ricos os que vos oprimem e os que vos arrastam aos tribunais? Tg 2:6

Ousamos não nos conformar; ousamos nos transformar pela renovação da nossa mente; fomos arrastados aos tribunais pelos ricos e pudemos conhecer a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

Queridos irmãos, companheiros e camaradas. A práxis é uma palavra que conheci há apenas dois anos, no fórum de missão integral em Londrina em 2008. Desde então não pude mais debater a verdade sem me incomodar com o praticar a verdade, em nenhum momento da minha vida cristão eu me senti a vontade discutindo, falando, escrevendo sobre as verdades do Reino sem praticar as verdades. Este ano decidi mergulhar nas profundas águas do Espírito praticando a verdade do Reino.

Não preciso fazer um relato dos acontecimentos aqui no Sul porque já foram mais do que relatados, publicados e debatidos; mas quero compartilhar sobre o Movimento do Reino; a Rede do Reino.

Depois que ousamos denunciar o descaso da empresa de ônibus local, questionarmos a falsa Marcha Para Jesus (tanto de Ctba, como de C. Largo), enfrentar a politicagem que queria tirar o posto de saúde de nosso bairro, reestruturar a associação de moradores do bairro... tive que enfrentar perseguições tanto políticas como político/religiosa. Não tivemos apoio da “igreja” local, nem pudemos contar com, pelo menos, suas orações, pois esta instituição corrompida não admite a defesa dos fracos já que esta amparada pelo estado, tendo seus membros no poder municipal, e prega o conforto como evidência de salvação... a Rede Fale Campo Largo não tem parcerias com “igrejas” em Campo Largo.

Pois bem. Fui processado pela empresa de ônibus. Divulgamos a situação para todo o Brasil (pelo menos para todos que conhecíamos no Brasil). O caso foi comentado nas listas de discussões tanto da Rede Fale como do EPJ, o pessoal se solidarizou, orou; o Gustavo Frederico, EPJ, esteve nos visitando, nos confortando e nos animando; tivemos um momento maravilhoso de comunhão. O Cáio e a Morgana, Rede Fale, me ligaram, me encorajaram...

Hoje foi o julgamento...

Desde nossa primeira ação, a distribuição do informativo CONSTRUÇÃO, pessoas começaram a me procurar e manifestar sua satisfação pela iniciativa; cada reunião que fazíamos com os moradores, cada evento que participávamos, mais pessoas vinham se colocar a disposição para ajudar: professores, militantes de movimentos sociais, militantes do PT (esquerda do PT), lideres de associações, como a dos deficientes físicos de Campo Largo, Pr. Hilquias Paim, presidente da Convenção Batista Paranaense... E nesse processo sempre contamos com o apoio integral do Monte Horebe e da igreja da Vinha de Itaperuçú (aliás a única igreja que nos apóia em todas as ações) estas representadas pelo Bebeto, Sueli, Abel, Admir, Avelardo, Toni... e todos dessa família maravilhosa que temos, não dá para citar todos eles... Sempre se colocando a disposição, vindo de Itaperuçú (60Km de C. Largo) para as reuniões e enfrentamentos... família maravilhosa.

Nesse processo, pessoas que nem mesmo professam qualquer credo religioso, nem mesmo em Deus acreditam! Vieram se unir a nós pela luta contra o deus deste mundo, Mamon. Recebemos o apoio valiosíssimo do Dr. Davi Pezato, igraja Batista do Prado, que é parceira do Monte Horebe no projeto da comunidade do Caçador, advogado que tem defendido a causa do “órfão e da viúva”, dando-nos todas as orientações com relação ao processo e se colocando a disposição para toda e qualquer acessória jurídica que precisarmos. E por fim tivemos o precioso apoio, engajamento e comprometimento do professor Avanir, da APP Sindicato, petista de esquerda e ativo na comunidade – e ele sempre esteve conosco nos enfrentamentos, desde o começo -, que articulou a minha defesa com o Dr. Albuquerque, advogado do PT, que trabalha no mandato do Dp. Dr. Rosinha, defende pobres, esfarrapados e desamparados, MST, movimentos sociais e toda sorte de povo que luta por justiça... e não professa nenhum credo religioso... tudo isso sem cobrar.

Hoje foi o julgamento... Poderia descrever toda a cena – um tanto quanto cômica, vendo um Gerente bundão com um advogado bundinha vindo dar-me um “corretivo moral” e tendo que ter auxílio do meu advogado, pois o bundinha estava um tanto quanto perdido... , o bundinha é só um dos advogados da equipe do advogado de acusação, que é da direita do PT, defende grades figurões políticos da região, inclusive um candidato a governo do estado, além de defender grandes empresas, como a do lixão e empresas de ônibus!– não vou descrever toda a cena. Só vou dizer o resultado do julgamento:

Houve conciliação com o encerramento do processo e a contrapartida de eu não poder “falar mal” da empresa de ônibus Transpiedade por três anos, sob pena de ter que pagar multa de dois mil reais. Ou seja conseguiram calar o Washington, mas não conseguiram calar o movimento.

Conclusão:

Nessa história toda, formou-se uma rede de pessoas, as mais improváveis, pelo menos na proposta “religiosa da coisa”, e isso transformou-se em um movimento maior do que a proposta “religiosa da coisa” que esta dando forma ao Reino de Deus na nossa região.

Damos graças a Deus por enviar os ceifeiros samaritanos; e oramos a Deus para transformar a mente e motivar ao comprometimento integral os que se propõem a falar contra a injustiça se denominando evangélicos.

E por fim, nos conscientizamos de que não devemos mais falar apenas a favor de quem não pode se defender, mas também falar com e a partir de quem não pode se defender.

Abraços a todos e que a Graça que não é de graça seja sobre todos.

Washington Cruz e Douglas Rezende

Campo Largo, 08 de novembro de 2010

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Declarando voto!

Presidente - Marina Silva 43 (PV)

Governador - Jefferson Moura 50 (PSOL)

Senador - Milton Temer 500 (PSOL)

Senador - Wladimir Mutt 211 (PCB)

Deputado Federal - Chico Alencar 5050 (PSOL)

Deputal Estadual - Marcelo Freixo 50123 (PSOL)

VOTE CONSCIENTE!



quinta-feira, 2 de setembro de 2010

FALE EM FAVOR DE REFORMA AGRÁRIA

FALE EM FAVOR DE REFORMA AGRÁRIA - PLEBISCITO POPULAR PELO LIMITE DE PROPRIEDADE DE TERRA

Sara Tironi*

Ai de vocês que adquerem casas e mais casas, propriedades e mais propriedades até não haver mais lugar para ninguém e vocês se tornarem os senhores absolutos da terra” Isaías 5,8

"E as propriedades cresciam cada vez mais e os proprietários iam simultaneamente diminuindo. E havia tão poucos fazendeiros pobres nas terras, que fazia até dó."John Steinbeck, trecho de “As vinhas da ira”

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O Brasil é o quinto maior país do planeta e o maior da América do Sul, mas grande parte desse imenso território concentra-se nas mãos de pouca gente. Esse problema vem sendo discutido de longa data, e de uma forma ou de outra, sempre esteve na pauta dos governos, ainda que hoje seja notavelmente pouco debatido pelos candidatos à presidência.

Já dura cerca de cinco séculos a história da concentração da propriedade da terra no Brasil. Suas raízes encontram-se no início do século XVI, na época colonial, quando os portugueses estabeleceram aqui a monocultura para exportação.

Hoje, a grande propriedade rural, o latifúndio, ainda predomina no país: segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), 1% da população detém 50% das terras brasileiras. Conforme os últimos dados levantados pelo instituto em 2006, 2,8% das propriedades rurais são latifúndios, os quais ocupam mais da metade da extensão territorial agricultável do país (56,7%). Em contrapartida, as pequenas propriedades, mesmo representando 62,2% dos imóveis, ocupam apenas 7,9% da área total das terras cultiváveis.

Como consequência direta da concentração fundiária rural, podemos destacar o problema do subaproveitamento das terras. Dos 850 milhões de hectares, 120 milhões estão improdutivos, segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Essa má utilização do espaço nacional não muda de figura quando tratamos, por outro lado, das terras produtivas, já que estas se prestam, predominantemente, às pastagens e à agricultura de exportação.

A agricultura de subsistência, por sua vez, destinada ao consumo interno, não apenas ocupa as piores e menores extensões de terra, como também recebe pouco ou nenhuma assistência do governo. É bastante grave nos depararmos com esse cenário no campo quando pensamos que uma boa parte da população brasileira passa fome ou se alimenta muito mal. Convém ainda lembrar que a apropriação da terra por uma minoria populacional acarreta também a concentração dos meios de produção (máquinas, equipamentos, etc.), do poder econômico, da renda e do poder político no meio rural.

Em 2000, o Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo (FNRA) criou a “Campanha pelo Limite da Propriedade da Terra: em defesa da reforma agrária e da soberania territorial e alimentar”. Como forma de massificar a discussão da campanha, bem como possibilitar uma maior integração e engajamento das diferentes forças sociais do país, será realizado o Plebiscito Popular pelo Limite da Propriedade de Terra, de 1 a 7 de setembro de 2010, na Semana da Pátria, junto com o Grito dos Excluídos.

Cremos que a participação dos cristãos no plebiscito não é apenas uma questão de cidadania, mas de fé. Acreditamos que a terra é Dom de Deus (Lv 25,23) e que a acumulação dela ofende a Sua vontade. Na Palavra Dele, as leis como do ano sabático edo ano do jubileu (Lv 25) nos dão material necessário para compreendermos que todos tem direito a terra e que a acumulação dela é abominável aos olhos de Deus. Podemos citar ainda os profetas do Antigo Testamento: Elias que diz ao rei Acabe que "...mataste e ainda por cima roubas" (1 Rs 21,19) depois que este se apossou da vinha de Nabote; Isaías afirma categoricamente que "Ai dos que juntam casa a casa e campo a campo"(Is 5,8); e ainda temos em Miquéias, "Ai dos que planejam iniquidade... Se cobiçam campos, eles os roubam, se casas, eles as tomam" (Mq 2,1-2).

.A Rede FALE formalizou essa semana seu apoio e participação no plebiscito. Com urnas em igrejas ou eventos, mobilizaremos nossa base para conscientizar o povo e pressionar as autoridades. Alguns de nossos grupos irão participar do “grito dos excluídos”.

Depois do envolvimento com o Plebiscito Popular pelo Limite da Propriedade da Terra, o FALE pretende continuar discutindo as questões agrárias e produzir material de discussão e mobilização para a igreja evangélica brasileira.

*Sara Tironi é estudante de direito e mora em Ribeirão Preto. Faz parte da Aliança Bíblica Universitária e da Rede FALE São Paulo

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Para maiores informações:

- http://www.limitedaterra.org.br/index.php

- A questão da terra no Brasil (Nelson Piletti e Ivone Masolino), disponível em:http://www.scribd.com/doc/6715394/A-Questao-Da-Terra-No-Brasil

- Cartilha do Plebiscito Popular pelo Limite da Terra

Se desejar participar da mobilização da Rede FALE, envie um e-mail paramobilizacao@fale.org.br

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Juventude em rede: Renas-jovem caminhando


Juventude em rede
Em agosto do ano passado, ao final do IV Encontro Nacional Renas, 102 jovens de diferentes regiões do Brasil reuniram-se no Rio de Janeiro para o I Encontro Nacional da Renas Jovem. O desafio: fomentar a construção de um setor de juventude na rede, comprometido com a luta pela transformação da sociedade.

A nova rede surgiu com dois objetivos principais: articular a juventude evangélica brasileira já envolvida com organizações sociais e engajada na luta pela justiça e provocar sua participação em conselhos de direitos e políticas públicas de juventude.

No encontro carioca, os jovens retornaram às suas cidades com a proposta de iniciarem um movimento semelhante em seus estados. Essa missão foi levada a sério pela juventude pernambucana que aproveitou a realização do V Encontro Nacional Renas, em Recife, para dar o pontapé na articulação da rede no estado.

O II Encontro Nacional da Renas Jovem, em Recife, foi protagonizado pela juventude pernambucana, com a colaboração de dois representantes da rede carioca. Os presentes foram divididos em dois grupos: pernambucanos, maioria dos presentes no encontro, que definiram metas para a consolidação da rede em Pernambuco; enquanto os demais discutiram sobre como fomentar uma rede jovem em seu estado, independente de suas organizações ou igrejas estarem engajadas na Renas.

A principal proposta da reunião foi colocar em contato representantes de importantes organizações evangélicas como Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB), a Rede Fale, Jocum, Mãos Que Ajudam, Avalanche, entre outras, para dar continuidade ao movimento de construção das Renas Jovens locais e, futuramente, da Renas Jovem Nacional.

Segundo o grupo gestor de Renas, cada região ou estado deve definir diretrizes de ação para o setor jovem, de acordo com sua realidade. A partir de uma atuação local, espera-se o fortalecimento e boa articulação do setor de juventude nacional comprometido com a luta pela justiça.

Para informações sobre filiação e para acompanhar os próximos passos da Renas Jovem carioca e pernambucana, acesse www.renasjovem.blogspot.com ou escreva pararenasjovem@gmail.com.



Cyntia Rosa, Comunicóloga e Analista de Responsabilidade Social, é membro da Igreja Batista Betânia e integrante da Renas Jovem RJ.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Justiça e ato de julgar ou "Sábado, cura e justiça"

Em Abril de 2008, experimentei montar um grupo de estudo bíblico no andar do curso de Filosofia da UERJ, o meu curso. O primeiro estudo que preparei (especialmente para o grupo da Filosofia) e conduzi na época segue abaixo:

Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB)

Estudo Bíblico Indutivo (EBI) - Sábado, cura e justiça (João 7: 1-24)

Introdução
Na filosofia grega aristotélica, conhecer significa ter informações e conceitos acerca da realidade das coisas, mas não implica diretamente em nenhum envolvimento prático. Na linguagem hebraica e na Bíblia, conhecer a Deus é fazer sua vontade. Nela, não há dicotomia entre teoria e prática. (Adaptado de O Estudo Bíblico Indutivo, de Antonia Van Der Meer). Nossa finalidade ao ler um texto como o Evangelho de João não é simplesmente obter mais conhecimento acerca de uma narrativa que ficou no passado, mas encontrar princípios que possam ainda hoje ser válidos em nossas vidas. O texto de João apresenta a figura de Jesus Cristo de forma diferente da que é apresentada nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). Aqui, esta incrível personagem está muito mais revestida de caracteres divinos, mas nem por isso deixa de ser Deus encarnado na História.

Dicas
Festa das Barracas ou das Tendas: realizada para lembrar o tempo em que os antepassados dos judeus haviam morado em barracas na sua viagem pelo deserto, do Egito à Terra Prometida (Lv. 23: 33-36; Dt. 16: 13-15).
Circuncisão: aqui pode ser entendida como a “cura” de um membro particular.

Leitura de João 7: 1-24
1. Quem são os primeiros a interagir com Jesus, o que eles lhe dizem e qual o significado disso?
2. O que Jesus lhes responde? Por que ele repete que seu tempo ainda não chegou?
3. Quais são as diversas especulações sobre Jesus feitas pelos judeus na festa? Qual delas é mais marcante, em sua opinião?
4. Repare que Jesus, ao se pronunciar nos versículos 16 e 18 utiliza a conjunção “mas” para contrapor a verdade de que ele era enviado por Deus às correntes especulações sobre sua figura. O que esta relação de contraposição significa?
5. O que Jesus está denunciando nos versículos finais? Que imagem ele apresenta para defender seus argumentos? Qual é a tensão implícita aqui entre a Lei e a justiça? Qual é a missão de Cristo em relação ao cumprimento da Lei?
6. O que seria não julgar pela aparência, mas sim conforme a justiça?
7. Qual outro momento do texto faz referência a julgamento? Jesus também faz um julgamento sobre o valor das ações, qual?
8. Como nós temos julgado e avaliado o que está a nossa volta? Julgamos as pessoas? Conferimos a elas valores diferentes?
9. Por mais que não nos pronunciemos a respeito de certas coisas, já fazemos um julgamento de valor quando aderimos ou não a elas. Com que critérios temos julgado as idéias, as propostas, as alternativas que nos são apresentadas?
10. Como podemos pautar nossa vida numa ética do julgamento segundo a justiça?



Liberdade para Amar
(Sérgio Pimenta)

Tantos preconceitos, tantos medos
Frutos de momentos de dor
Que o pé atrás usa seu veto
Quando é necessário se expor

Superficial, risos polidos
Relacionamentos de “alô”
Que ninguém estranha se falidos
Que ninguém mais sabe o que é amor

Vamos fazer o amor, vamos dar uma flor
Tentativas de buscar sentido
Vamos unir as mãos, ao fingir-nos de irmãos
Coreografia de aflitos

Liberdade no que é perfeito
Externar aquilo que se é
Em Jesus o amor brota no peito
De quem o segue crendo pela fé

E que se faz visível qualquer jeito
Em prosa, em gesto, em dó, mi, fá, sol, lá, si, ré



11. Inspirando-nos na letra de Sérgio Pimenta, como podemos fazer para abandonar nossos preconceitos e termos uma prática mais parecida com a de Jesus, refletindo amor e liberdade?

terça-feira, 29 de junho de 2010

Orem por Diamanso

Hoje cedo, faleceu Anderson, um dos filhos de Roberto Diamanso. Estejam em oração por ele e sua família.

domingo, 13 de junho de 2010

S8 CULTURAL

No último dia 5 de junho, participei da S8 CULTURAL, tocando com Roberto Diamanso e pela primeira vez com o Carlinhos Veiga.

Vejam um pouco do que rolou:



terça-feira, 8 de junho de 2010

FALE NA RUA!

No dia 30 de Abril de 2010, na Central do Brasil (Rio de Janeiro - RJ), realizamos o primeiro FALE NA RUA!. Era véspera do dia do trabalhador (1º de Maio), então nossa intervenção teve como tema a justiça do trabalhador. Nesse dia, contamos com a participação de: alguns "falantes" do Rio e de São Gonçalo, de Caio Marçal (sec. de Mobilização do Fale), de Marcus Matos (sec. executivo do Fale) e ainda com a especial presença de Roberto Diamanso e seu filho, que estavam de passagem pelo Rio de Janeiro.

Veja a seguir uma pequena amostra do que foi o FALE NA RUA!:


quinta-feira, 3 de junho de 2010

Tortura, por que não?

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100501/not%20imp545397,0.php

Tortura, por que não?

01 de maio de 2010 | 0h 00

Maria Rita Kehl - O Estado de S.Paulo

O motoboy Eduardo Pinheiro dos Santos nasceu um ano depois da promulgação da lei da Anistia no Brasil, de 1979. Aos 30 anos, talvez sem conhecer o fato de que aqui, a redemocratização custou à sociedade o preço do perdão aos agentes do Estado que torturaram, assassinaram e fizeram desaparecer os corpos de opositores da ditadura, Pinheiro foi espancado seguidas vezes, até a morte, por um grupo de 12 policiais militares com os quais teve o azar de se desentender a respeito do singelo furto de uma bicicleta. Treze dias depois do crime, a mãe do rapaz recebeu um pedido de desculpas assinado pelo comandante-geral da PM. Disse então aos jornais que perdoa os assassinos de seu filho. Perdoa antes do julgamento. Perdoa porque tem bom coração. O assassinato de Pinheiro é mais uma prova trágica de que os crimes silenciados ao longo da história de um país tendem a se repetir. Em infeliz conluio com a passividade, perdão, bondade, geral.

Encararemos os fatos: a sociedade brasileira não está nem aí para a tortura cometida no País, tanto faz se no passado ou no presente. Pouca gente se manifestou a favor da iniciativa das famílias Teles e Merlino, que tentam condenar o coronel Ustra, reconhecido torturador de seus familiares e de outros opositores do regime militar. Em 2008, quando o ministro da Justiça Tarso Genro e o secretário de Direitos Humanos Paulo Vannuchi propuseram que se reabrisse no Brasil o debate a respeito da (não) punição aos agentes da repressão que torturaram prisioneiros durante a ditadura, as cartas de leitores nos principais jornais do País foram, na maioria, assustadoras: os que queriam apurar os crimes foram acusados de ressentidos, vingativos, passadistas. A culpa pela ferocidade da repressão recaiu sobre as vítimas. A retórica autoritária ressurgiu com a força do retorno do recalcado: quem não deve não teme; quem tomou, mereceu, etc. A depender de alguns compatriotas, estaria instaurada a punição preventiva no País. Julgamento sumário e pena de morte para quem, no futuro, faria do Brasil um país comunista. Faltou completar a apologia dos crimes de Estado dizendo que os torturadores eram bravos agentes da Lei em defesa da - democracia. Replico os argumentos de civis, leitores de jornais. A reação militar, é claro, foi ainda pior. "Que medo vocês (eles) têm de nós."

No dia em que escrevo, o ministro Eros Graus votou contra a proposta da OAB, de revisão da Lei da Anistia no que toca à impunidade dos torturadores. Para o relator do STF, a lei não deve ser revista. Os torturadores não serão julgados. O argumento de que a nossa anistia foi "bilateral" omite a grotesca desproporção entre as forças que lutavam contra a ditadura (inclusive os que escolheram a via da luta armada) e o aparato repressivo dos governos militares. Os prisioneiros torturados não foram mortos em combate. O ministro, assim como a Advocacia Geral da União e os principais candidatos à Presidência da República sabem que a tortura é crime contra a humanidade, não anistiável pela nossa lei de 1979. Mas somos um povo tão bom. Não levamos as coisas a ferro e fogo como nossos vizinhos argentinos, chilenos, uruguaios. Fomos o único país, entre as ferozes ditaduras latino-americanas dos anos 60 e 70, que não julgou seus generais nem seus torturadores. Aqui morrem todos de pijamas em apartamentos de frente para o mar, com a consciência do dever cumprido. A pesquisadora norte-americana Kathrin Sikking revelou que no Brasil, à diferença de outros países da América latina, a polícia mata mais hoje, em plena democracia, do que no período militar. Mata porque pode matar. Mata porque nós continuamos a dizer tudo bem.

Pouca gente se dá conta de que a tortura consentida, por baixo do pano, durante a ditadura militar é a mesma a que assistimos hoje, passivos e horrorizados. Doença grave, doença crônica contra a qual a democracia só conseguiu imunizar os filhos da classe média e alta, nunca os filhos dos pobres. Um traço muito persistente de nossa cultura, dizem os conformados. Preço a pagar pelas vantagens da cordialidade brasileira. "Sabe, no fundo eu sou um sentimental (...). Mesmo quando minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar/ Meu coração fecha os olhos e sinceramente, chora." (Chico Buarque e Ruy Guerra).

Pouca gente parece perceber que a violência policial prosseguiu e cresceu no País porque nós consentimos - desde que só vitime os sem-cidadania, digo: os pobres. O Brasil é passadista, sim. Não por culpa dos poucos que ainda lutam para terminar de vez com as mazelas herdadas de 21 anos de ditadura militar. É passadista porque teme romper com seu passado. A complacência e o descaso com a política nos impedem de seguir frente. Em frente. Livres das irregularidades, dos abusos e da conivência silenciosa com a parcela ilegal e criminosa que ainda toleramos, dentro do nosso Estado frouxamente democratizado.

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