segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Sou professor de filosofia...

[22 de setembro de 2016]

Sou professor de filosofia.

Ontem, numa aula de 8o período do Ensino Médio Técnico (onde leciono são 4 anos de E.M. dividos em 8 períodos), conversávamos e debatíamos textos sobre "trabalho". Teve um momento muito espontâneo e bonito em que contrapondo a ideia do trabalho-sacrifício ao trabalho-prazer, perguntei se os estudantes poderiam dar algum exemplo de prazer no trabalho. Muito prontamente, um aluno disse apenas "você", o que gerou alguns risos obviamente. Aí ele completou dizendo que "eu obviamente tinha escolhido fazer algo de que gostava". Realmente, a educação, o ensino de filosofia, mexer com pensamento e vida de uma maneira super colada ao tempo presente junto aos/às estudantes, é algo que me dá prazer. É bonito mesmo isso. Tenho na minha escola, 2 tempos de aula com cada turma, mexo com diferentes temas (ementas) por semana (uns 6 mais ou menos). Na maioria das escolas públicas de Ensino Médio (sejam estaduais e mesmo nas federais), as aulas de Filosofia e de Sociologia têm apenas um tempo por semana cada uma. O tecnicismo, o produtivismo é a regra. Eu realmente vivo "fora da realidade" na escola em que leciono, as "condições trabalhistas" (desde o tempo de contato com os alunos até as condições salariais) são de fato muito boas. Ainda assim, o tecnicismo é a regra. Parece que a tão disputada inclusão de "filosofia e sociologia" no Ensino Médio (uma luta de décadas), que culminou na inclusão dessas disciplinas como obrigatórias e não apenas como "temas transversais" teve agora uma reviravolta com o tratoramento dessa Medida Provisória, que só expressa o tratoramento e fechamento (ou abertura) produtivista de sempre dos administradores do poder (de direita e de esquerda). Não tenho dúvidas, a lógica dada é de escravização, domesticação, embrutecimento, e nunca de autonomia e emancipação. A Medida Provisória e sua "reforma no ensino médio" é o modus operandi dos governos, só aperfeiçoa e aprofunda ainda mais a lógica colocada em prática todos os dias. Se, por um lado, dizemos que "escola sem pensamento crítico não é escola", por outro, é preciso reconhecer que uma das funções atuais da escola é fazer a manutenção do fracasso (que é o sucesso) do sistema de "formação cidadã" no país. O pensamento segue apontando alguns caminhos para mim mesmo e quem mais quiser:
- parar de atribuir a algumas pessoas, a algumas figuras políticas, a fonte de todo o mal (isto serve tanto "à direita" quanto "à esquerda")
- reconhecer que o que nos move são as maneiras de pensar os diferentes problemas da vida
- reconhecer que sempre há relação de forças em jogo precisa nos fazer ser menos reféns e mais hóspedes da decisão política, ou seja, precisa ampliar nossa liberdade, nossa possibilidade de escolhas e não reduzi-las ao "eterno retorno do mesmo"
- enfim, sem crítica e autocrítica, vai ser bem difícil...
- ah, o prazer, encontrar o prazer na interação com as pessoas a quem você está prestando um serviço é um caminho!
Sigamos!

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