quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Chacina de Vigário Geral: 15 anos

Na noite de 29 de agosto de 1993 mais de 40 homens mascarados, armados com metralhadoras, escopetas, pistolas e granadas, invadiram a favela de Vigário Geral, zona norte da Cidade do Rio de Janeiro, provocando grande terror.
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Divididos em três grupos, foram responsáveis pelas horas mais dolorosas e terríveis para pessoas de bem, onde incendiaram traillers e motocicletas, cortaram fios telefônicos e destruiram orelhões.
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O saldo foi de 21 pessoas mortas, nenhuma com antecedente criminal. Entre elas, sete estavam em um bar e oito perteciam a uma família evangélica. O que se pode perceber cotidianamente é que nas famílias de baixa renda as crianças não tem acesso a lazer de forma adequada, e seus pais vivem a constante preocupação em saber que seus filhos são humilhados, discriminados e agredidos de diversas maneiras.
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Apesar de completar no próximo 29 de agosto, 15 anos da chacina de Vigário Geral, continuamos a registrar que todos os dias inumeras pessoas inocentes morrem nesta guerra sem fim!
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DIA DE LUTA DO POVO CONTRA A VIOLÊNCIA
DIA 29 DE AGOSTO!
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(informações disponibilizadas pela Agência de Notícias das Favelas - ANF)
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5 comentários:

Sérgio Cerqueira Borges disse...

http://odia.terra.com.br/blog/blogdaseguranca/index.asp

Vigário Geral: tragédias por todos os lados
Por Gustavo de Almeida






Nesta sexta-feira, completaram-se 15 anos da triste chacina de Vigário Geral, quando 21 inocentes foram assassinados da forma mais insana possível, em uma vingança sangrenta que tomou conta do noticiário internacional. A Ordem dos Advogados do Brasil, seção Rio, lembrou a data, mas já é possível perceber que aos poucos a cidade vai deixando as trágicas lembranças da chacina para trás. Os atos vão sendo esvaziados. O noticiário na TV vai ficando mais ralo, e até mesmo os nomes de mortos e matadores vão sendo menos escritos. Até mesmo um dos matadores foi morto em maio, sem que se fizesse muito alarde disto.
Vigário Geral e o Rio de Janeiro se refletem em um espelho, quando somam impunidade e injustiça.
Uma das parentes de vítima teve a indenização negada no fim do ano passado pela Justiça, sem maiores explicações. É obrigação do Estado recorrer, como manda a lei. Mas surpreendeu que em última instância a vítima tenha perdido. É inexplicável. Trata-se de uma senhora que até hoje vive em Vigário, sem maiores perspectivas. Não sabe nem que a vida lhe foi injusta. Já não sabe o que é vida.
Poucos sabem, mas há um PM no caso de Vigário Geral que acabou se tornando vitima. Trata-se de Sérgio Cerqueira Borges, conhecido como Borjão.
Borjão foi um dos presos que em 1995 já eram vistos como inocentes, colocados no meio apenas por ser do 9º´BPM. A inocência de Borjão no caso era tão patente que ele inclusive foi o depositário de um equipamento de escuta pelo qual o Ministério Público pôde esclarecer diversos pontos em dúvida.
Borjão foi expulso da PM antes mesmo de ser julgado pela chacina. Era preso disciplinar por "não atualizar endereço".
Borjão conta até hoje que deu depoimento em seu Conselho de Disciplina sob efeito de tranqüilizantes, ainda no Batalhão de Choque. Seus auditores sabiam disto. "No BP-Choque, fomos torturados com granadas de efeito moral as vésperas do depoimento no 2º Tribunal do Júri, cujos fragmentos foram apresentados à juíza, que enviou a perícia. Isto consta nos autos, mas nada aconteceu", conta Borjão, hoje sem uma perna e com a saudade de um filho, assassinado em circunstâncias misteriosas, sem que ele nada pudesse fazer.
"No Natal fui transferido para a Polinter. Protestei aos gritos contra a injustiça. e Me mandaram para o hospital psiquiátrico em Bangu mas, por não ter sido aceito, retornei e em dias fui transferido para Água Santa. Lá também fui espancado e informei no dia seguinte em juízo, estando com diversos ferimentos, mas sequer fiz exame de corpo delito. Transferido para o Frei Caneca, pude ajudar a gravar as fitas com as confissões e em seguida fui transferido para o Comando de Policiamento do Interior. Após a perícia das fitas fui solto. Dei entrevistas me defendendo e tive minha liberdade provisória cassada e me mandaram para o 12ºBPM a fim de me silenciarem. No júri, fui absolvido. Meus pedidos de reintegração à PM nunca foram respondidos".
A história de Borjão ao longo de todos estes 15 anos só não supera mesmo a dor de quem perdeu alguém na chacina. Mas eu não estaria exagerando se dissesse que Sérgio Cerqueira Borges acabou se tornando uma vítima de Vigário Geral. "Tive um filho com 18 anos assassinado por vingança. Sofri vários atentados e um deles, a tiros, me fez perder parcialmente os movimentos da perna esquerda. Sofro de diabete, enfartei aos 38 anos e vivo com um tumor na tireóide. Hoje em dia tento reintegração à PM em ação rescisória, o processo é o número 2005.006.00322 no TJ, com pedido de tutela antecipada para cirurgia no Hospital da PM para extração do tumor. Portanto, vários atentados à dignidade humana foram cometidos. As pessoas responsáveis nunca responderão por diversas prisões de inocentes? Afinal foram 23 inocentes presos por quase quatro anos com similares seqüelas. A injustiça queima a alma e perece a carne!", desabafa Borjão.
Borjão hoje conta com ajuda da OAB para lutar por sua reintegração. Mas o desafio é gigantesco.

Triste ironia do destino: o policial hoje mora em Vigário, palco da tragédia que o jogou no limbo.

A filha dele, no entanto, me contou há alguns dias que não houve tempo suficiente para esperar pela Justiça e pela PM - Borjão teve que operar às pressas o tumor na tireóide no Hospital Municipal de Duque de Caxias. A cirurgia foi bem. Sérgio Cerqueira Borges vai sobreviver mais uma vez.
Sobreviver de forma quase tão dura como os parentes de 21 inocentes, estas pessoas que sobrevivem mais uma vez a cada dia, a cada hora. No Rio de Janeiro é assim: as tragédias têm vários lados e a tristeza de quem tem memória dificilmente se dissipa. Pelo menos nesta data, neste 29 de agosto que nos asfixia.




POSTADO POR: Gustavo de Almeida às 19:38 :: Arquivado Comentário (21)

Anônimo disse...

Interessante qd alguem é absolvido e depois da absolvição, passa a limitar suas condições financeiras. Antes do fato , esse senhor morava em zona nobre do rio de janeiro e hoje ele está em Vigario Geral, perdeu um filho sem saber pq? São coisas q acontecem q ele só ele pode tentar explicar para a sociedade, pois pelo fato dele ter sido absolvido, ele poderia ter tido mais cuidado e prestado atenção na criação de filho q foi assassinado, que naturalmente ele deve saber o motivo, sé ele.

Anônimo disse...

Ao anônimo,
gostaria de saber exatamente o que você quis dizer com o que você escreveu?

Abraços,
Pedro GRabois

Sérgio Cerqueira Borges disse...

Gostaria de esclarecer ao senhor anônimo que residia no Recreio dos Bandeirante na comunidade do Terreirão, muito diferente de área nobre e fui criado em Vigário Geral. Quanto a morte do meu filho também esclareço que ele foi assassinado após a exibição do linha direta da globo sobre a chacina por vigança; sofri vários atentados e como não obtiverão êxito, mataram meu filho por vingança. Tenho a dizer também que ao contrario de muitos, nunca escondi minha identidade nem meu rosto; provei no juri ser inocente, não por falta de provas mas sim por ter o conselho de sentença me absolvido pelas tese defensiva.
Ou o senhor ou senhora não acredita que no Brasil não ocorra injustiças? Talvez em uma visão etnocentrica eu seja culpado por ser PM- licenciado.

Sérgio Borges disse...

http://ondeoventofazacurvalagoinha.blogspot.com/2011/08/especial-chacina-de-vigario-geral-rj.html

http://videos.r7.com/especial-chacina-de-vigario-geral-rj-completa-18-anos/idmedia/4e5c235de4b0e138800a00f1.html



Em 29 de agosto de 93, 21 pessoas foram brutalmente assassinadas. A reportagem da Record voltou ao local do crime para relembrar o caso que chocou o país e apurar o que aconteceu com os responsáveis.