No Natal de 1973, há exatos 40 anos, desaparecia Maurício Grabois, meu tio avô, nas selvas do Araguaia.
Ainda hoje muita gente "simplesmente" desaparece no Brasil. Não precisa ser comunista (nem precisava), basta ser pobre, negra, indígena, camponesa, ribeirinha, favelada e ser contradição viva com os avanços desse sistema centrado no capital. Tudo o que é obstáculo a esse tipo de progresso, seja humano ou não, é de alguma forma aniquilado. A tática do "desaparecimento" ainda é muito comum. Trata-se de algo terrível. Quem desaparece não está vivo nem morto, é um espectro, um fantasma.
O estatuto do "desaparecido" é um "sem-estatuto", mas não é algo solto no ar. Estar desaparecido no Brasil tem a ver diretamente com a ação do Estado. Trata-se de um acontecimento político: o Estado "resolve" intervir de forma brutal sobre a vida das pessoas, dando-lhes não a morte, não o encarceramento, mas o "apagamento da memória". Hoje, nossa atenção para o passado ainda tão atual é fundamental. A Ditadura não é uma página virada na História, seu espectro continua a nos assombrar. A violência do Estado atua, portanto, pelo menos de duas formas: com a assombração de um passado ainda não trazido plenamente "à luz do dia" e com ações semelhantes às desse passado (e ainda piores e em dimensões ainda maiores) de "sumiço", tortura e outras técnicas perversas de controle.
Compartilho uma vez mais o curto vídeo da antiga campanha da OAB/RJ pela Memória e pela Verdade:
Compartilho também esse relato incrível dramatizado por uma atriz (que agora não sei o nome) convidada pela Comissão da Verdade do Estado de São Paulo "Rubens Paiva". O relato conta um pouco da história de vida da Helenira Rezende, também desaparecida durante a Guerrilha do Araguaia.