quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Um convite ao diálogo: discriminação racial e cotas na universidade

Ainda pra celebrar a Semana da Consciência Negra (que virá!), partilho aqui no blog um texto que foi publicado como parte do Informativo ENTRE NÓS da ABUB em meados desse ano que já está quase no fim!

Um convite ao diálogo: discriminação racial e cotas na universidade

Pedro Grabois

“Aprendei a fazer o bem! Buscai o direito, corrigi o opressor! Fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva! Então, sim, poderemos discutir, diz o Senhor” ( Isaías 1:17-18a)

Eu costumava interpretar esse versículo de maneira muito pragmática, a ação vinha sempre antes da discussão. Como ficava então o meu anseio por discutir, pensar, refletir, arrazoar?

Cedi àquela vontade e fui cursar Filosofia, para alguns um curso muito teórico e pouco prático. Minha crise se resolveu quando entendi que teoria e prática, pensamento e ação já não caminham separados. O trabalho que eu posso desenvolver, como “filósofo”, como pesquisador, como diagnosticador do presente tem um papel fundamental para as ações que nós cristãos podemos empreender para transformar realidades à luz do Reino de Deus.

Descobri, na Filosofia, um caminho não muito óbvio de contribuição para a Missão na qual todos tomamos parte. Não muito óbvio porque muitas vezes o rigor conceitual (um “preciosismo”) da Filosofia não me deixa trabalhar diretamente com “dados empíricos”. Na pesquisa que desenvolvo, estudo as relações entre ética, formas de conduzir a vida e formas de resistir a diferentes “opressões” (para simplificar). Não estudo ali diretamente o fenômeno da religião e da espiritualidade, mas eu o vivencio a cada dia.

Caminhando com a ABU na universidade, aprendi a diagnosticar também o tempo presente e os vários problemas e injustiças que o perpassam. Na ABU e a partir dela, descobri um universo social muito plural, descobri o quanto são diversos os “atores sociais” (dentre os jovens e os já não tão jovens) que mobilizam mudanças importantíssimas para a atualidade. Falar e agir com – vou usar um conceito antigo – responsabilidade social não é fácil. Pensar então no nosso papel político enquanto juventude evangélica na universidade brasileira é mais complexo ainda. Os temas são muito espinhosos, há muitas opiniões, muitas discordâncias, algumas convergências.

Um assunto nada fácil do qual tenho me aproximado bastante é o problema do racismo. Aqui coloco minha opinião e minha posição sobre o tema, isto é, sempre é possível discordar do que vou dizer, mas não digo nada aqui sem embasamento. Embora a dialética já não seja mais paradigma na Filosofia, quero, dialeticamente, junto com o texto de Isaías, agir e refletir, refletir e agir. E é pensando este tema que eu gostaria de encerrar este texto.

A discriminação racial continua sendo uma realidade hoje no Brasil. É muito difícil verificar o preconceito racial em atitudes individuais porque isso é sempre muito velado, disfarçado; é tudo muito sutil e cordial. É preciso combater esse tipo de atitude, obviamente, mas não é somente contra esse racismo que precisamos lutar. É preciso combater o racismo estrutural, uma forma de discriminação por raça que se estabelece nas estruturas de organização da sociedade e em instituições como hospitais, escolas, empresas, universidades, bancos, etc. A população negra continua tendo menor acesso à saúde e à educação, e continua sendo maior alvo da violência nas comunidades populares e periferias do Brasil. Se olharmos e interpretarmos os dados da desigualdade social do país, perceberemos que mesmo entres os mais pobres, há desigualdade entre brancos e negros. Os negros continuam tendo piores condições de vida. Uma política universal para potencializar a vida das populações em geral não iria dar conta desse problema. É preciso agir também pensando a partir dessa especificidade da população negra. Promover políticas de ação afirmativa para as pessoas negras é uma forma de reparar os aspectos discriminatórios que as impedem de ter acesso às mais diversas oportunidades. No caso da mulher, por exemplo, vem-se criando as delegacias policiais especializadas na questão de gênero. No caso da juventude negra, vem-se discutindo o polêmico tema da política de cotas.

Como não posso me alongar aqui, também não vou completar toda a minha argumentação sobre o tema, a Filosofia me pede uma paciência maior! Mas é também a Filosofia e ainda a fé nesse Deus que transforma situações concretas de injustiças que me ensinam a estar atento ao presente, a diagnosticar e agir sobre essa atualidade, sabendo que Deus apresentou os princípios para nossa ação em Jesus, a Palavra encarnada. Assim, nós, Aliança ao mesmo tempo Bíblica e Universitária, veremos como sendo tarefa nossa discutir, com humildade, respeito e indignação, estas difíceis questões: o acesso e a permanência de jovens nas universidades brasileiras. E veremos como agenda: combater o pecado do racismo, a partir do nosso arrependimento.


FONTE: http://www.abub.org.br/compartilhe/informativos/entre-nos/item-artigos/2011/06/um-convite-ao-dialogo-discriminacao-racial-e

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