sexta-feira, 16 de maio de 2008

Oração com olhos e ouvidos atentos

Na nossa caminhada em missão integral, o cultivo de uma vida de oração nos traz lembrança do sagrado, da eternidade, no cotidiano ordinário. Além disso, a prática do serviço diaconal ao próximo anda também no mesmo rumo, principalmente, quando lembramos o que o Senhor Jesus disse em relação aos pequeninos que têm fome e sede, são estrangeiros, estão nus, enfermos e presos (Mateus 25: 31-46), nos possibilitando a vivência do Reino de Deus com a presença de Jesus no necessitado, que é imagem e semelhança do Criador.
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Diante disso, podemos pensar numa oração diaconal, ou seja, uma oração vivenciada no serviço ao próximo, ao necessitado, ao pobre. Para isso, devemos estar atentos a uma educação de nossos sentidos em relação àquele que necessita. É comum orarmos de olhos fechados (sem nenhuma justificativa clara, bíblica ou teológica). Entretanto, a oração no contexto da missão integral deve ser feita de olhos e ouvidos bem abertos.
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O profeta Habacuque tinha os ouvidos atentos ao sofrimento alheio. Seu livro é um diário de oração, em que registra suas inquietações diante da violência e injustiça causadas pelo avanço bélico do império babilônico. Interessante é a “canção de zombaria” (2: 6-20) dos povos atacados pela Babilônia e que “um dia ririam” de seu opressor. As exclamações, os cinco ais, do livro são imprecações que não eram raras na Antigüidade, expressando desprezo e desejo de vingança em relação àquele que trazia guerra, violência, dor e destruição. Podemos fazer uma pequena digressão para observar que por trás dos ais “prometidos” aos babilônios havia, primeiramente, os ais dos povos oprimidos que sofriam os ataques da guerra.
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É necessário, portanto, educar nossos ouvidos para perceber os gritos de violência e injustiça sofridas, muitas vezes diariamente, sem, no entanto, haver uma guerra iminente, como era no contexto do profeta Habacuque. Esse tipo de percepção deve preencher nossa vida de oração, como uma atitude profética.
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Já, Amós, o vaqueiro-profeta de Tecoa, não acreditava no que via, no sentido que ele foi despertado para exercer sua vocação a partir de seu olhar, daquilo que estava diante de seus olhos, diariamente. Ele vivia cuidando de rebanhos e de figueiras bravas (7: 4-15) e foi nesse contexto, e não em escolas de profetas, que Deus lhe abriu os olhos para as injustiças e desobediências das nações ao seu redor, inclusive Judá e Israel.
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Aqui, temos é uma exortação para que abramos os olhos, de forma profética, diante de nossa realidade, da realidade brasileira, no nosso entorno próximo, seja em nossa vizinhança, seja na universidade, na comunidade eclesiástica, na cidade, no estado, na região, no país, na América Latina, no mundo globalizado.
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Com olhos e ouvidos atentos ao próximo e a nosso contexto, nossas orações convidarão o Reino de Deus (Venha o teu Reino!) para perto, encontraremos, Jesus no outro e atuaremos como profetas denunciando injustiças e anunciando as Boas Novas.

Rodolfo Silva
Acessor de Diaconia da ABUB
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(Este texto foi publicado originalmente no Respondendo ao Chamado. O RAC é um informativo semestral da Rede FALE.)

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