quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Autenticidade: uma forma de racismo

"A autenticidade, uma das principais figuras conceituais da colonialidade, serve como fundamento de uma espécie de 'racismo ético' (diante da dificuldade política e antropológica com o racismo étnico), corporificado na tentativa de se impor uma ética mundial ou uma arquitetura protoeuropeia de valores universais."

(SODRÉ, Muniz. Reinventando a educação: diversidade, descolonização e redes. Petrópolis, RJ: Editora Vozes Ltda, 2012, p. 51)

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

José Carlos Lopes Júnior (19 anos), presente!


LUTO


Nos unimos em oração à Ana Paula Lisboa, que perdeu seu irmão através da ação do Estado Brasileiro.



Segue a mensagem dela contando o ocorrido:



"Obrigada a todos pelas mensagens, pela força que com certeza estamos precisando.

Hoje, dia 12 de fevereiro, meu irmão faria 19 anos. Foi só um tiro, na nuca, ele de mãos pra trás e ajoelhado. Não vi o corpo, mas ainda estava aqui quando cheguei. E só estava porque minha família e os moradores do entorno impediram que os policiais da UPP do Morro do São João descessem com o corpo antes da perícia chegar.
De saldo três ônibus incendiados, todo o comércio fechado, muito grito, spray de pimenta e o Bope desrespeitando tudo e a todos.
Amanhã aparecerá nesses programas do meio dia que mais um jovem foi morto e que ele tinha passagem pela polícia, e tinha, por tráfico. Mas antes mesmo das passagens ele já era meu irmão, ia ser pai em breve, era filho da minha mãe e do meu pai. Era tanta coisa complexa que eu não consigo resumir nesse post. 
E principalmente tinha nome: José Carlos Lopes Júnior. 
#SaudadesEternas "

Mais cedo, já noticiando a morte do irmão, Ana Paula também publicou no Facebook:

"Muito pior que a morte é a morte violenta, é a morte matada. Não morre só mais um jovem negro e pobre. Morre eu, morre a família toda. Meu irmão morreu. Como pode alguém morrer no mesmo dia em que nasceu?"


A notícia no Jornal O DIA saiu com a seguinte manchete: 

'Fizeram ele ajoelhar e atiraram na cabeça', diz pai de jovem morto no São João.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Raimundo Felipe da Silva, presente!

Hoje foi o ato de despedida, o sepultamento do Sr. Raimundo Felipe da Silva, pai da minha amiga Fátima Silva, no Cemitério do Catumbi (Rio de Janeiro, RJ).
Fátima, através do amigo Jorge William, fez um agradecimento aos que estiveram presentes no dia de hoje. Reproduzo aqui um trecho de seu registro sobre um homem que lutou e dividia tudo com todos, como bem disseram durante o velório.

“Na ocasião, celebramos e memoramos a vida e dedicação de um homem marcado por uma trajetória de engajamento político e de um militante efetivo em várias frentes, dentre as quais, esteve atuante durante o processo de reestruturação do Partido Comunista Brasileiro, o que o levou a ser preso e interrogado no antigo DOPS no ano de 1964, sob acusação de ser comunista. Foi também participante na organização de sindicatos, e ainda, dedicou-se em mobilizações para garantir melhorias e desenvolvimento de comunidades e na fundação de várias associações de moradores na zona oeste carioca. 

Foi um homem simples, de origem nordestina, vindo para o RJ como retirante, tendo como formação acadêmica apenas o 4º ano primário incompleto. Casou-se e constituiu uma família de 6 filhos, tendo como fonte de toda renda familiar a profissão de pedreiro, mas insistente em promover o estudo e formação dos filhos e filhas. Em meio a tantas limitações e dificuldades, lutou com grande empenho e esforço por mais dignidade e igualdade de condição de vida para os mais pobres e oprimidos, acreditando piamente na transformação social e da diminuição das desigualdades, por meio da justiça e da participação popular e democrática. Foi a partir de uma dinâmica de leituras e de sua formação politico-ideológica de esquerda, que tornou-se uma liderança e um referencial para muitos jovens, que vieram a ser dentre muitos doutores e de carreira política ativa.

Dentre algumas reminiscências e falas feitas por familiares, amigos e companheiros de lutas, foi lembrado, com destaque, que uma das poucas instituições que devotava seu respeito e admiração até o fim de seus dias – foi o MST - cuja bandeira esteve aberta na capela e durante todo o cortejo funeral. Outro gesto memorável e de grande emoção, foi quando uma de suas filhas, sugeriu que fosse cantada a canção “Pra não dizer que não falei de flores” (Geraldo Vandré), considerando esta, uma mensagem que simboliza a história e trajetória de seu pai, o “Raimundão”, como era considerado por todas e todos.

Agradecemos grandemente por nos permitirem partilhar este singelo relato apenas como um ato simbólico em homenagem a homens e mulheres que trazem consigo um referencial de lutas e convicções em favor de seus semelhantes.


Fraternalmente,Fátima


Hoje, seu Raimundo estava coberto de flores...

teoria X prática = ?

Num tempo em que todo o trabalho tende a se tornar "imaterial", passando pela CRIAÇÃO de relações sociais, formas de vida, ideias, conceitos, emoções,  afetos, sentimentos, imagens, sonoridades, texturas, percepções, ficções, narrativas, etc.; num tempo em que o "produto" de nossas ações está sempre enredado em uma miríade de práticas discursivas, sempre dando "o tom" das nossas lutas, a velha TEORIA sobre a oposição Teoria X Prática já não tem (ou pelo menos não deveria ter) mais lugar.

Jesus e o jovem negro amarrado em um poste num bairro nobre do Rio de Janeiro

Então Jesus (esse camarada que mal conheço, mas curto pacas) chegou no bairro do Flamengo e encontrou um jovem negro acusado de praticar furtos e roubos pronto para ser apedrejado pelos seus acusadores brancos de classe média (os escribas relataram que tinha um pardo só entre estes) e eis que Jesus pede para pararem, olharem para si mesmos, para o quão corrupto são também, como que dirigem bêbados voltando da balada, avançam o sinal vermelho, são avarentos, invejosos, mentirosos, caluniadores, sonegadores de impostos, etc, etc. Então pede para deixarem o rapaz em paz: "quem nunca vacilou na vida jogue a primeira pedra" - finalizou o Mestre.

E então Jesus foi acusado de defender bandido, pobre, prostituta e maconheiro e ser contra os 'cidadãos de bem' em rede nacional. fim.

[do amigo Eliezer Silva]

FONTE: Facebook e Ultimato