quinta-feira, 31 de março de 2011

Fé, Bíblia e Discriminação

Estudo Bíblico Participativo

(Esse estudo foi realizado no ano passado, em Novembro, ficou bem simples e direto, como tem que ser!)


Fé, Bíblia e Discriminação


Dia 20 de Novembro, próximo sábado, é Dia Nacional da Consciência Negra. Ao olharmos com atenção para a realidade brasileira veremos que a discriminação racial não ficou no passado. Ao contrário, ainda hoje o racismo se apresenta como problema social e fator determinante para muitas injustiças vividas não apenas por alguns indivíduos, mas por um enorme contingente da população brasileira. Lendo a Bíblia, vemos que ela já aponta: discriminar alguém, além de ser errado, é pecado.


Texto Bíblico: Tiago 2: 1-9 (Escrito em formato de carta, o livro de Tiago encontra-se no Novo Testamento)


1 Meus irmãos, como crentes em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam diferença entre as pessoas, tratando-as com favoritismo.

2 Suponham que na reunião de vocês entre um homem com anel de ouro e roupas finas, e também entre um homem pobre com roupas velhas e sujas.

3 Se vocês derem atenção especial ao homem que está vestido com roupas finas e disserem: "Aqui está um lugar apropriado para o senhor", mas disserem ao pobre: "Você, fique de pé ali", ou: "Sente-se no chão, junto ao estrado onde ponho os meus pés",

4 não estarão fazendo discriminação, fazendo julgamentos com critérios errados?

5 Ouçam, meus amados irmãos: não escolheu Deus os que são pobres aos olhos do mundo para serem ricos em fé e herdarem o Reino que ele prometeu aos que o amam?

6 Mas vocês têm desprezado o pobre. Não são os ricos que oprimem vocês? Não são eles os que os arrastam para os tribunais?

7 Não são eles que difamam o bom nome que sobre vocês foi invocado?

8 Se vocês de fato obedecerem à lei real encontrada na Escritura que diz: "Ame o seu próximo como a si mesmo", estarão agindo corretamente.

9 Mas se tratarem os outros com favoritismo, estarão cometendo pecado e serão condenados pela Lei como transgressores.


Perguntas para reflexão em grupo:

1 – Qual o exemplo concreto de discriminação dado pelo autor da carta?

2 – Que perspectiva ele contrapõe ao ato de discriminar?

3 – Reflita sobre as várias formas de discriminação que podemos encontrar na sociedade de hoje. Dê exemplos concretos. O que difere da e o que se assemelha com a narrativa bíblica?


Jesus afirma em João 7: 24: “Não julgueis conforme a aparência, mas julgai conforme a justiça.”


4 – Pense em formas de enfrentamento da discriminação e como elas estariam em acordo com as palavras de Jesus e com as recomendações de Tiago. Dê exemplos concretos, que se apliquem à sua realidade.


“Temos direito a reivindicar a igualdade sempre que a diferença nos inferioriza e temos direito de reivindicar a diferença sempre que a igualdade nos descaracteriza”.

Boa Ventura de Souza Santos

terça-feira, 29 de março de 2011

2 relatos sobre ações de juventude

Algumas movimentações no blog do Fale (www.fale.org.br):

Aqui: relato (jornalístico!) sobre participação no CONJUVE , escrito pelo Max Dias, meu companheiro de lutas no CONJUVE (ele representa o Fale e eu a ABUB).

Aqui: relato (poético!) sobre encontro de movimentos no ES, do meu querido irmão Eliezer.

Abraços a todos, sigamos na Luta!

Pedro

"Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados." (Mateus 5: 6)

sábado, 19 de março de 2011

Práticas que promovam justiça!

Práticas que promovam justiça!

Como pregar o evangelho sem importar-se com a miséria do faminto, do sem teto, ou sem confrontar-se com as estruturas corrompidas da sociedade?" (Pr. Marcos Vichi)

Sempre me inquietei com o tema da justiça.Mais do que um tema, a prática da justiça frente às situações de injustiça era para mim um problema mesmo: “o que fazer?” e “como fazer?”. Durante muito tempo (a adolescência e início de juventude me parecem, ainda, ter durado um longo tempo), eu procurava chamar meus irmãos da igreja local a algumas pequenas reflexões, pequenas ações ou atitudes que pudessem transformar, de alguma forma, a vida das pessoas que estavam em situação de abandono ou que haviam sofrido algum tipo de violência.

De lá pra cá, foram várias atividades de visitação a abrigos e asilos e alguns pequenos ciclos de debates sobre problemas como violência urbana e desigualdade de acesso e posse da terra (para dela trabalhar e viver). Tudo isso ocorreu na igreja local. Minhas ações, em geral, se limitavam à realidade e aos recursos que a igreja local me fornecia.

Alguns anos se passaram, e eu permanecia acreditando nas pequenas mudanças, nas pequenas transformações que o Evangelho (em forma de alimento espiritual e físico) podia causar na vida das pessoas. No entanto, uma inquietação sempre me acompanhou: eu me via agindo sempre sobre efeitos da violência e da injustiça, tentando remediar micro-problemas, enquanto as estruturas da sociedade permaneciam não questionadas e inquestionáveis. Uma convicção passou a me acompanhar: era preciso, de alguma forma, articular as pequenas ações por justiça na vida das pessoas à minha volta com ações que incidissem sobre “o todo” da sociedade na qual eu vivia. Quem me ajudou nesse processo de pensar e agir para além da “realidade local” foi a ABU.

Se fosse resumir o que trabalhar com evangelização de estudantes com a ABU me ensinou em termos de ação sobre a coletividade, diria o seguinte:

1) A ABU me fez caminhar espiritualmente e trabalhar na Missão junto com pessoas de outras igrejas: me fazendo reconhecer as várias possibilidades de atuação das igrejas locais, das mais diversas denominações.
2) A ABU me fez contornar aquelas possíveis diferenças entre mim e os outros crentes: deixando de lado detalhes de doutrina, pude me ater ao mais essencial junto aos colegas da universidade para realizar um objetivo comum.
3) A ABU me apontou um caminho de articulação com outras organizações (como Rede Fale e Rede Evangélica Nacional de Ação Social [RENAS]), me abrindo, assim, cada vez mais o leque de possibilidades de articulações e parcerias na hora de realizar o trabalho missionário.

A ABU me trouxe novos conhecimentos: novas práticas de ação social e política estavam agora à minha disposição. Comecei a colaborar com a Rede Fale e com a RENAS, ajudando também a construir a RENAS-Jovem. De 2008 pra cá, foram campanhas locais e nacionais, encontros e reuniões, fóruns e seminários. Caminhar com movimentos e redes me vem me ensinando que é possível unir diferentes perspectivas de ação em torno de um objetivo comum: a promoção da Justiça do Reino de Deus.

Esse ano fui escolhido para representar a ABUB no Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE). A demanda é representá-los: aquilo que vocês sonham e pensam em termos de justiça e transformação social pode ser levantado como uma bandeira, uma voz nos grandes centros de decisão do país. Minha expectativa é a seguinte: que haja, entre mim e o movimento, uma troca substancial, uma parceria, uma cumplicidade. Que possamos agir e sonhar juntos. Espero que esse breve relato da minha caminhada possa abrir um canal entre nós e encurtar as distâncias de um país de proporções continentais como o Brasil.

Para entrar em contato comigo: pedrojustica@gmail.com ou www.justicaintegral.blogspot.com


FONTE: http://www.abub.org.br/compartilhe/informativos/blog-abub/2011/03/praticas-que-promovam-justica

*Esse texto foi escrito antes da minha ida ao Conjuve. Foi mais uma forma de expressar minhas expectativas para com o movimento do qual participo (ABUB).

quinta-feira, 10 de março de 2011

"Des-graçado Deus"

"Des-graçado Deus"


por Lucas Gomes (Missionário da JOCUM)


Em meio à correria do trabalho pesado, não nos faltou tempo com as famílias para os deliciosos cafezinhos nos finais das tardes. Juntos trabalhamos, rimos e choramos.

Nos últimos vinte dias estive trabalhando na pequena Vieira, vila que pertence ao município de Teresópolis. Lá, mais de oitenta pessoas perderam suas vidas devido à volumosa chuva da madrugada do dia 11 de Janeiro. Quem não perdeu algum membro da família, perdeu no mínimo um grande amigo. A quase dois meses da tragédia, o Anderson chora o luto dos que se foram. Ele perdeu sua esposa e seu único filho, um lindo menino de cinco anos. O Djalma chora a morte do pai e irmãos, a Patrícia chora a perda de sua casa, construída com o suor do trabalho duro na lavoura. O Zé chora a perda das cebolinhas que estavam prontas para serem colhidas, elas alimentariam as famílias da cidade grande, e o que sobraria do fracionado lucro o sustentaria por algum tempo. A Ângela chora porque o governo não tardou em desanimá-la, depois de idas e vindas à Caixa, o aluguel social ainda não está disponível. Outro dia ela assistiu uma reportagem sobre os desabrigados de Santa Catarina, que três anos após a tragédia, alguns dos de lá continuam morando em barracas “provisórias”.

Há uns “portadores da verdade” que sobem a Serra com seus carros e caminhões carregados de donativos, interesses e arrogância, que dizem para os Vieirenses: Deus está julgando a Serra, vocês precisam se voltar para Jesus... O Anderson não consegue entender porque que o Deus que ele pensava ser amoroso e misericordioso matou seu filho e esposa. As poucas palavras que sai de sua boca são: Eu não estou entendendo, mas Deus sabe o que faz!

Deus realmente sabe, Ele sabe por que boa parte das pessoas que estão nos abrigos são pobres e negras, Ele sabe!

Nossa fé animista não consola o Anderson e nem confronta as repetidas injustiças. No curto prazo, nossos caminhões e voluntários subiram a Serra, uns com boa vontade, outros com arrogância e respostas prontas, usando a situação de destruição e luto como estratégia para podermos empurrar nossa estranha visão sobre o causo.

Amanha faz dois meses do acontecido. O cenário mudou completamente, as necessidades são outras. A grande maioria das pessoas já não precisa mais de roupas, água ou sextas básicas. O momento é de reconstrução. Reconstrução da casa da Patrícia, reconstrução do relacionamento entre o Anderson e seu “des-graçado” Deus. É momento de cobrarmos dos que prometeram, é momento de expressarmos o amor e a verdadeira graça do Deus que é Pai e amigo do Anderson, da Patrícia, Ângela, Djalma, Zé...